Diante da imensa crise política em que nos vemos mergulhados, Lucas Keese dos Santos prefere perguntar aos Guarani Mbya, com quem convive há muitos anos, o que poderia ser a política.
E a primeira resposta deles seria — em consonância com o que já havia notado Pierre Clastres (que esteve entre eles nos anos 1960) — que, em vez de buscá-la nas disputas por uma posição estável de poder e soberania, mais valeria investigar mecanismos capazes de conjurar modos de coerção e subordinação.
Os Guarani Mbya indicaram ao autor que uma chave preciosa para compreender que a sua política reside nos movimentos de uma dança, ou dança-luta, que eles chamam de “dança dos xondaro” (xondaro jeroky).
Esses movimentos são os da esquiva, os de “fazer errar” (-jeavy uka) o adversário.
Nesse ponto, sugere o autor, o xondaro guarani se encontraria com a capoeira.
Ambos têm na esquiva uma característica central, são danças-lutas forjadas por populações com longa história de subjugação, que precisaram aprender a se esquivar para seguir existindo.